às três e oito.

a aula já havia terminado, mas, pelo que percebi, ele queria ficar mais.
ela se sentou na cadeira, já eu me sentei na mesa, ao lado dele.
ele começou a ler os geniais poemas de Manuel Bandeira.
quando ele lia os de amor, eu me imaginava com você.
quando ele lia os de morte, eu pensava que estava perdendo tempo, que devia viver cada minuto (por mais clichê que isso seja).
ela não sabia se ria ou se ficava séria.
começamos a conversar sobre comportamentos e sobre arte.
fomos todos embora. eu fui com ela, de bicicleta.
eu pensei durante o caminho, cheguei a conclusão de que o que mais quero na vida é amor, seja com você ou com qualquer outra pessoa.

achado.

'Tudo o que eu quero é descansar, ficar quieta, ganhar carinho de mãos bonitas, talvez ouvir piano.'

o que foi, o que fica.

o tapete vermelho e marinho já não cobre mais o chão da sala;
as cortinas beges já não impedem a claridade de fora entrar pra dentro;
os quadros já não deixam a sala mais bonita;
as roupas e os sapatos já não fazem parte do guarda-roupa.

o que fica: as lembranças e as flores que um dia fui regar.

no telefone.

i: ou, o que você tá fazendo?
n: aí, vendo tv. já vi a programação inteira.
i: e eu que não agüento mais ouvir uma música? já enjoei de todas. tô pintando a unha de vermelho.
n: nossa, nem me fala. eu também não agüento mais. hoje tava no trem e começou a tocar aquela música que um velho canta 'eu sou bailarina (8)'. meu, eu que sou menina nova não sou bailarina, e aquele velho, é? ah, pelo amor de Deus. que raiva. tô com raiva da nova brasil.
i: mas eu não consigo mais escutar nem as músicas que gosto.
n: eu também não. mas certeza que se alguém chegar em mim e falar que tal música é bonita, eu vou gostar. não tenho personalidaaaaade. tava no metrô com a lala e fiz uma careta, ela disse que você fazia.
i: Jesus, mas eu tava falando com a minha mãe e ela falou que eu tô falando igual você. sou copiooooona.
n: eu que sou. preciso entrar numa bolha pra me encontrar.
i: eu preciso ir pra uma ilha, filha. é demais pra mim. tô pintando a unha de vermelho. (?)
n: gente, mas eu só faço o que os outros fazem, só gosto do que os outros gostam.
i: você acha que eu não? pára, cansei. não vou mais tomar banho.
n: eu também não vou, filha.
i: aí, mas eu não vou mais me depilar.
n: mas eu também não. vou virar uma macaca. não vou mais fazer nada, se alguém me der 'bom dia', eu mando tomar no cú.
i: e eu vou me isolar no quarto e baixar o cd dos racionais pra ver se me enquadro nesse tipo de música.
n: vai baixar o cd como se vai estar no quarto? hdiuashdias certeza que vai fazer um computador de papel e vai baixar.
i: faço, ué. *um minuto de silêncio* ou, tô pensando, eu te idolatro. certeza que no meu quarto tem um lugar com foto sua.
n: Deus do céu, eu que te idolatro. tem um altarzinho aqui com foto sua.
i: aaaaaah, não agüento. acho que minha risada só é sem som porque vi alguém rindo assim.
n: ou, mas sério, eu faço tudo que os outros fazem. não sei mais quem sou, devo ser chata.
i: você acha que eu devo ser o que?
(...)
i: vamos fazer algo diferente no final de semana.
n: mas os planos não saem do papeeeeeeeel.
*tu tu tu tu tu*
i: meus créditos acabaram.
n: não precisa chorar. eu quero algo extraordinário! (?)
i: eu também quero.
(...)
i: que raiva da estrada. beijo, telefone.
n: que?
i: que raiva da estrada.
n: nossa, mas você misturou tudo.
i: não, eu falei porque a estrada é que estraga.
n: é mesmo. pisa nela, xinga ela.
i: vou dar uma cuspida nela. agora preciso ir. te folha.
n: te *algo identificável*
i: beijo, telefone.
n: beijo, abajur.



foi mais ou menos assim. mas com voz de choro, e fazendo muito mais drama. é até pecado!

um pequeno deslize,

pode levar tudo pelos ares.
assim que chegou, voou água para todo lado. estava vibrante. sorria e se mostrava um guerreiro, aquele que tinha acabado de ganhar a glória depois de lutar contra tudo e contra todos.

disse que não se arrependia de nada que havia feito na vida, mas que esse, com certeza, era o melhor momento entre tantos outros e que queria aproveitá-lo.

subiu na pequena (grande, imensa!) escada. não conseguia ficar parado. mexia as mãos, umedecia a boca, piscava os olhos e quase sem querer deixava escapar alguns sorrisos. recebeu o ouro, este foi colocado em seu pescoço, caindo sobre seu peitoral. antes da bela música começar a tocar e a bandeira começar a subir, ele não resistiu e tocou no ouro, aproveitando para olhar, para admirar. no meio da música, ele não se conteve e caiu nas lágrimas. tentava secá-las, mas elas -que continham toda emoção e toda felicidade- não paravam de cair. foi uma cena linda, me enchi de orgulho de alguém que nem conheço.

esse foi o primeiro ouro, tanto do Brasil nas Olimpíadas como da natação brasileira. quem o recebeu foi César Cielo Filho. algumas pessoas nem sequer sabiam quem era o rapaz em questão, quiçá, nem lembravam que havia alguém além de Thiago Pereira competindo pelo Brasil na natação.

no nosso país, não há incentivo algum para o esporte. acho até injusto cobrar os atletas, que só são valorizados pela família e por amigos. até conseguir patrocínio, até ser reconhecido, precisa se esforçar muito.

queria deixar isso registrado aqui porque me emociono demais com essas coisas, principalmente com atletas que choram. e também por ter ficado contente que o sacrifício (afinal, abrir mão de quase tudo por uma coisa incerta é um sacrifício) de um brasileiro valeu à pena.

uma carta pra você.

tô na aula de geografia, mas a única coisa que sei é que o professor está falando sobre a região nordestina -isso porque está na lousa. cá estou, escutando as músicas mais lindas e pensando em tudo que te disse e em tudo que deixei de te dizer. pensando também no que fiz, no que deixei de fazer e no que devo fazer.

ontem, antes de dormir, fiz mil perguntas para a laura, mas já sabia que as respostas só existiam no meu coração.

(fui interrompida. falaram que o som estava alto demais. agora abaixei, espero que não tenha mais problemas).

sempre tento entender o porquê. bobagem! pois é só uma questão de sentir. o que queria era que nossos passos nos levassem à uma dança, não importa como. nesse momento, nem a minha respiração, que fica ofegante quando estou com você, ia me constranger.

quando estamos longe, a hora não passa. os ponteiros insistem em ficar no mesmo lugar. já nos (pouquíssimos e imprevisíveis) dias que estamos 'juntos' as horas voam, "escorrem pelas mãos".

começou a tocar 'canção pra você viver mais' e eu sei que você gosta dela. só fez com que a vontade de estar com você aumentasse. (por incrível que pareça, quando terminou essa música, a bateria acabou).

enfim, fiquei feliz que veio falar comigo naquela terça. minha vontade era de sair pulando/dançando pela casa. espero resolver o que falta para poder ir te buscar no emprego e te abraçar e cantar e amar e tentar. depois eu sei que posso até ficar acabada durante meses, anos -drama!. mas vou deixar o depois pra mais tarde.

tenho desejos maiores, eu quero beijos intermináveis!


ps: carta escrita ontem, na escola. até pensei em mandar, mas sempre invento um 'mas'.

sobre você.

...em perder noites de sono, só pra te ver dormir.

é verdade. fomos feitos em épocas e lugares incrivelmente diferentes, e só com um terrível milagre para unirmos, mesmo que por segundos intermináveis, ou horas (dias, meses, anos) fugazes. nem ao menos nossos sentimentos conseguem se ritmar. meu coração grita por algumas (poucas) palavras suas, ou até mesmo um leve sussurro sem canções de amor, só um sopro de vida. já o seu coração eu nem sei certamente onde está. a única certeza é que está sofrendo, pois está na contramão, longe do meu.

talvez a culpa seja minha, por naquela noite não ter me arriscado por um quase beijo, mal sabe que fiquei intermináveis noites planejando cada detalhe. nem a lua escapou do meu plano, ela também, assim como você e eu, tinha lugar marcado nessa incrível peça, talvez um longa, e sem nenhum problema poderia ser um curta. (um filme qualquer que imaginei assistir ao seu lado, só para sentir sua respiração na minha, e seu coração ser meu).

mas talvez a culpa também seja sua, por não ter notado minhas 526 pistas (acho que foram muitas outras que nem eu notei) e por ter me confundido com seus sinais.

ou talvez, de nenhum dos dois.

e da próxima vez que nos encontrarmos você vai entender meu silêncio constrangedor, e minha luta para achar um lugar pra repousar minhas mãos, minha respiração eufórica.

"sonho tanto com esse momento" e parece que vou continuar sonhando até conseguir criar coragem para me arriscar "por um segundo teu no meu".


texto escrito pela amiga-irmã Natalie, que me deu o texto e disse que escreveu por sentir e pela descrição que muitas vezes fiz sobre você e sobre momentos que planejei pra nós.